os ossos estalavam tão próximos
do folego da palavra. aquela respiração
de quem conhece o lado de cá e também
algum outro lugar que não é lado.
eu soprei pra longe a palavra
como um desejo de aniversário
a crise me dizendo que todo sopro arde
a ferida e que desejos são feito de
chupões e lambidas e os sopros não servem
pra deixar as palavras bem longe.
eu arranhei a casca de um poema
essa madeira podre e úmida como
eu mesma era podre e úmida e por isso
tão inquebrável quanto essas fantasias
enterradas nos pátios das casas a venda
o silencio envelhece a madeira e a pele
eu mirei o espelho no olho de um poema
sem saber que os espelhos servem para vermos
coisas que já vimos e não queremos abandonar.