terça-feira, 14 de junho de 2016

14.06.2016

Seja como for, seja névoa.
Seja como for, desmancha
a língua.

Essa palavra é a convulsão e o sono.

Teu sonho pequeno em tua cama pequena,
teu sonho é uma raiz confusa, é um
abraço apertado de alguém cujo rosto
tu desconhece.

Essa palavra é a religião
incendiada, é uma traqueostomia
carinhosa na tua garganta,
seja o que for a névoa,
tua língua desmancha na raiz
confusa de um rosto estranho,
e tu desconhece teus sonhos,
essa palavra é corpo poema
silêncio principalmente.

14.06.2016

A tarde foi feita para raspar as páginas
dos poemas e foi feita para que houvesse espera
e houvesse noite e houvesse palavras
arranhadas, poemas, a tarde foi feita
para o silêncio e para a mão cicatrizada
das mães agressivas.

Há apenas um barulho na casa, há apenas
um barulho num quarto trancado, há apenas
o quarto barulhento e a tarde começa a 
esquentar os nervos da minha mãe, 
há apenas uma roupa luminosa para
vestir após o banho, quando o banho é 
pensar sobre o frio, sobre a tarde, sobre
a mão pesada da criança castigando
sua boneca. 

A tarde foi feita para espalhar o céu
sobre os nossos cabelos, e para que houvesse
mãos e deus pudesse ficar um pouco 
adormecido, um pouco pensativo
no seu quarto de chave perdida, 
a tarde foi feita para as meninas
surrarem suas bonecas com 
mãos de vento, com mãos de mãe
ressecada, há apenas um poema, 
há apenas a palavra varrida no céu, 
as mãos, também existem, se vestem
de luz e espera, há uma ciranda
confusa no parque, há tudo empurrado
para o meio da tarde.