segunda-feira, 28 de abril de 2014

Imitação de movimento

O movimento do luto
não é um movimento,
é um avesso da ação,
é um movimento em
rewind, uma espiral
entortando seus espinhos
ao fundo, abaixo,
sempre em direção
à cova.
Um velar desfeito do
olhar do tempo,
a persistente vigília
desse aparelho cardíaco
ligado ao coma.
Seu barulho, seu batimento,
uma tortura japonesa.
Nenhuma janela é aberta
nesse quarto,
o vidro sempre embaçado
encobrindo a morte,
faz crer que os mortos
não são privados da vida.
Ninguém chega a esse tipo
de doente.
O silêncio é a eterna espera
dessa avaliação selvagem
Médicos-monstros ao redor
da cama, ou da cova,
segredam uma temida
desesperança que suja
os dedos, as unhas,
e por debaixo das unhas,
um cheiro que não se lava.