quinta-feira, 25 de agosto de 2016

25.07.2016

Eu que preciso de luz, calor, daquilo que vem a ser a compressão escura da terra, troco meridianos pelos risco grosso de giz, este chão não está quente o bastante para os rins, e todo líquido repousa magoado dentro da bexiga, meu corpo que precisa do calor, da luz, da cor violenta do amor, minhas mãos estão ocupadas crescendo, para toda defesa há essa temperatura metálica, minhas mãos estão enterradas no calor da terra, crescendo como plantas, não quentes o bastante no inverno, são longas as estações, são tão enigmáticas, uma aquarela num finíssimo papel japonês, uma cor violenta num papel japonês, um enigma metálico num papel finíssimo, meu corpo que precisa de luz, calor, e eu troco mistérios com as estações, eles me devolvem alguma fé, eu que preciso tanto de calor.

25.07.2016

Gosto dos vagalumes
porque derretem as dúvidas,
sobretudo quando os
deposito nos cantos escuros
do corpo, onde minha mão
quase toca.

25.07.2016

Da materialidade do corpo se diz
violência.
Quando penso é
cheiro e pedaços do sol
contra a retina clara.

25.07.2016

Houve um deus irrequieto, ele era um monstro gigante, embaixo da minha cama,
na sua história, as garotinhas vazavam pelos pulsos seus líquidos mornos, 
e o meu aberto e agudo, escancarava plantas crescidas pelo inverno, 
houve uma pequeníssima oração, como uma meia conta no terço, como um
pedaço quebrado da pérola, como um espinho caído da rosa, e nela eu 
pedia só mais um pouco de calma, só uma noite, estes líquidos noturnos
sobem como se fervessem devagar e cheirosos, faziam também engrossar as 
minímas orações, e eu pedia calma, sempre.

25.07.2016

as grandes ruas florescem,
aquecidas e pacificadas,
grandes espaços deixados
em paz, lavados de toda
enxaqueca, as manhãs se abrem,
rasgadas com a tua quietude
rasgadas até que feixes de luz
engulam pedaços perdidos
de tecidos, se esses tecidos são
horas, mãos, a carne ritmada
do peito.

teu pulso é líquido,

à noite o sono se ergue da cama
com o cuidado de deixar a porta aberta,
e tu transita entre sonhos alheios,
alfazemas, pedaços brancos de papel,
o pulso ainda derramado.

25.07.2016

Eu queria morar embaixo de uma cerejeira. 
Protegida pelo tom, contra toda distância,
morar na curva da planta, na sua imperfeição,
no coração úmido da pétala.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

09.08.2016

Os caminhos foram abertos pelas
violentas cores desmaiadas nas plantas
úmidas e estes mesmos caminhos
afogam-se na excessiva terra 
do meu coração.

Não sei a quem devolver
este perfume, todo retorno 
é feito de respirações partidas,
fissuradas, não sei a quem devolver
este ninho confuso e doméstico. 

A avenida está clara como se eu 
sorrisse no meio da noite.