terça-feira, 28 de julho de 2015

28.07.2015

Esta sou eu com as costas quebradas, cabelo volume alto, choro comprido, esta sou eu doendo as tripas rasgadas, um exagero, uma dose de tequila, uma mentira bem contada, esta sou eu, erguida em pilares de areia, socada com força pela correnteza, para o fundo, além, e mais um pouco, ali no subsolo do oceano, onde eu escondo ovos podres que eu fiz no jantar passado, e você comeu todos, te mato todos os dias.

domingo, 26 de julho de 2015

27.07.2015

Jantei vodka, dramin e um surto asfixiado. Fui calada na boca, pela mão violenta da palavra, ainda que reste o peito e uma mentira que bate, e também um vômito evitado, aquele que raspa a parede gástrica da alma: não vou dormir nunca mais, já sei que mesmo com sono não vou dormir nunca mais: mentiram algo tão grande que não posso dormir nunca mais. Eu vou deitar, fechar os olhos, sonhar, deixar o pesadelo vir, mas eu não vou dormir nunca mais.

27.07.2015

Não tire a mão de mim, posso achar que morri. Sou o tipo de garota existencialista, o tipo que precisa saber com a mão alheia sobre a vida, porque aqui dentro é confusão e cercas enfarpadas, e também um frio infinito. Deixa a mão aí embaixo da minha blusa, é que eu sou o tipo de garota acinzentada, se não sou esmagada até a dor, acho que tudo está longe, incluindo um corpo que divide a mesma cama. Não deixa que teus dedos escorreguem dos lábios, a desesperança é uma mãe africana que segue uma tradição de crueldade, não me corta, me escreve, aqui dentro com os dedos. Posso achar que morri, se você não me pega e me leva onde está o gozo: uma melancolia contraída, uma risada ácida, o corpo quente no inverno e um precipício trancado para as visitas, nunca estou para onde você me puxa: na verdade, eu nunca estou aqui.

27.07.2015

Tenho acordado babando quase toda noite: veja bem, dormir é mesmo o que possuo de mais selvagem, o resto é apenas um coração dilacerado, papéis numa máquina de sumir com dados, uma nova vida, uma tentativa de sequestro daquele passado que fede, meus dedos sempre perto das lâminas: os papéis, as digitais, a veia que desemboca um rio de sangue no músculo fraco que é o meu coração dilacerado, a identidade laminada, um novo piso imitando um verdadeiro, um excesso de cera, a limpeza imitando um lodo amarelo de monstro de sin city, eu vomitando as tripas por bobagens, quem nunca sonhou em ser bulímica? Quem nunca sonhou em tirar do peito a faca envenenada, e não achou que fosse fácil fazer dormindo?, como quando transar dormindo era apenas abrir as pernas e deixar que as sensações do corpo atingissem o degrau do sonho, mas agora você era violada, porque esqueceram de deixar você dormir, esqueceram de deixar você sonhar um pouco, antes da penetração, e pegar de olhos fechados, o pau ereto para melhor encontrar o caminho doaselvageria que é dormir e ser amada, agora tudo era teu pesadelo, você babando um veneno de cachorro não vacinado, você como uma cadela desavisada do estupro, e lá no fim da escadaria do teu sonho: o escuro.

27.07.2015

Eu pendurada no ponteiro do relógio como uma criança pendurada pelo sapato na engrenagem da roda gigante, uma medonha música de parque temático, se espalhando como um vírus xexelento de inverno, eu aprendi a perceber que o horror está pintado de rosa, e tem cheiro de algodão doce, artificialidade, tiros no alvo que valem a vida do meu ursinho de pelúcia, tiros no alvo, no peito, no meu, principalmente. Eu quase caí do tempo. Eu quase fui solta pelo cadarço do sapato. Não há nenhum lugar infantil no mundo que não guarde um choro, e também não há nenhum outro lugar do mundo que não tenha perpetuado esse choro ao infinito através do olhar triste do adulto. Corro para as margens, mas sempre expando, e meu centro aumenta: agora mesmo sou do tamanho de um planeta, e mesmo assim, pequena o bastante para me sentir quebrada, partida, ou prestes a ser pisada por alguém distraído: não gosto dos brinquedos, eles fazem coisas como: bater, girar, correr, eles fazem coisas, e nós estamos tão suscetíveis, e eu não vim aqui para brincar, eu sei que vim fazer outra coisa, eu me sinto enjoada em quase todos os brinquedos desse parque maldito.

26.07.2015

Encomenda-se um poema que caiba dentro do cano de um calibre 12: encomenda-se a fantasia da tua morte ou ela própria - o que vem a ser a mesma coisa. Encomenda-se um esquecimento tão forte que me leve ao gozo: um tingimento de vermelho nos sonhos: a água escorrendo as mentiras - tão suave: meu corpo nu fazendo o delicado serviço de te: decepcionar. Não há poema.

sábado, 25 de julho de 2015

26.07.2015

Estão brincando no pátio da minha vida. Eu vejo tudo, escuto tudo. Agora mesmo, quebraram um copo por lá, alguém sempre chora, outro alguém sempre grita. Eu vejo as palavras ficarem bêbadas de um conhaque velho, e vomitarem sentidos sem ordem ou amor. Eu vejo que estão brincando, eu escuto as risadas. Eu sinto a mão da paranoia, sua temperatura, seus calos mínimos, às vezes, uma mão enluvada, eu escuto a correria, atrás do poema, eu vejo que brincam por lá, eu recebo a umidade do choro dos que perdem, e eles se vingam, vez ou outra, e também recebo a umidade do sangue, e estou no fogo do inferno e ainda úmida: eu vejo uma vagabunda sendo sodomizada perto da escada, onde é escuro, onde as mentiras são pisadas como galhos secos no outono e se quebram com a mesma constância dos ponteiros dos relógios endurecidos: eu vejo que brincam, eu escuto as risadas: eu canso como uma câmera que não se desliga para um lugar de vigília: de risada e de sono, muito sono, mas eu escuto as risadas. 

26.07.2015

Deixe sempre a porta aberta quando passa: seu rabo peludo sempre pode ficar flutuando depois que você já está no outro lugar e não se reconhece mais como esse animal grotesco: essa selvageria que se esgueira pelas soleiras, e se move sozinha sem pensar, sem comandos, sem destino. Eu te reconheço animal confuso, selvagem nos olhos de quem chora, cavalo, cachorro, pensador de si mesmo e que se engole por fome, uma fome de outra coisa, um apetite, uma ira, aquilo que é luxúria: o abraço.

26.07.2015

Eu sou o cabelo vermelho, eu sou o pedaço de músculo que grita, eu sou a célula que esconde e retém segredos de humanidade, eu sou a unha quebrada pelo dia infeliz da rotina, eu sou o pelo pubiano, eu sou a panturrilha contraída, o pé gelado, eu sou a mão inquieta, sou seios fartos, a pele branca, a dureza do osso, eu sou um amontoado de vermelhos que se abraçam, eu sou o arrepiado da nuca, sou a química que corre e leva mentiras, espelhos, cacos de expressões interiores, eu sou o umbigo, a lágrima salgada, o estômago que chora fome lá no escuro do suco gástrico, eu sou o suco gástrico, eu sou a que faz dizer e a que diz: pronome possessivo para o corpo é uma: saudade de si: é um: reconhecer-se buraco: é um: estou onde¿ e sou arrancada de mim, erotizada como objeto de mim, saída de mim onde não tem saída. 

26.07.2015

Histórias de cabelos que caem, leucemias, despedidas brancas esterilizadas, um corte cirúrgico no afeto: quarentena até baixar a febre. Quarentena até estarem todos habituados à morte. Roda feito peão, a distância, e volta pra cá, orbita, até o fim do dia já deu uma volta sobre si, outras quinze ao redor do objeto, e ainda o traz por dentro: a imagem: vodka limão e água: sal para disfarçar a feitura de sangue: uma metástase de amor: está espalhado: meu órgãos lutando manter a cena do crime: forjada: digitais e dedos nas nádegas: histórias de receita com letras indizíveis: com letras estranhas a nós, curas pandorizadas, curas milagrosas: você está generalizado no mundo: está em toda parte, e não podemos te dar a liberdade de pular da ponte para o outro lugar que não é aqui, você é um aparelho que desliga outra coisa: você não conhece, você mesmo é um negrume incerto no rosto até que o primeiro olhar exploda: vê um nó. 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

15.07.2015

A mulher se deu de presente ao precipício. Foi engolida pela boca da floresta: lá dentro a bruxaria: o coração fora do eixo: na verdade: colocado embaixo da roda do trem. A sorte dela é que: ela é um presente para o precipício. 

15.07.2015

Uma ponte de rosas que choram: o perfume do suicídio. Não sinto cheiro de gás: nem do leite que era uma prova de amor no meio do abandono. Apenas o desespero ao pentear os cabelos: 40 graus de febre devem ter rendido uns 27 poemas. 

15.07.2015

Tento deixar a casa em silêncio: escutar apenas o meu coração aos berros. Ouvir um grito pendurado no ponteiro do relógio: a cada segundo mais alto: marcando aquilo que eu odeio: e que tenho vergonha de dizer. As palavras se enfiam nos vãos dos meus surtos: procuram em desespero um espaço, se fincam nas dobras: ficam ali esperando a hora: mastigam minha pele: as palavras: dezoito poemas pendurados num varal inconsciente: secam, as palavras secam: eu mesma pude sentir com as mãos: a textura ressecada: a melancolia da pós-modernidade: um relógio que anda e some: inacessível: a palavra torrando ao sol: a palavra esquecida de ser recolhida: um poema no vento queimando as faces vermelhas: nunca senti tanto frio na vida, e olha que faz tantos graus quanto no inferno: mas o vento arranca o poema do arame: o arame arranca o poema de mim: o poema me arranca do grito do tempo.

15.07.2015

Deus nos cuspiu aqui embaixo. Somos inúteis: catarros divinos: somos a própria doença de deus: um diagnóstico inevitável falseando procedimentos sagrados: somos um vírus: o resto de um. Ninguém virá nos resgatar: não fazemos parte da história. Exceto que: uma vez criados tínhamos de ser lançados em algum lugar: ocupamos espaço e isso é tudo: é o máximo da explicação. O resto é mentira.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

15.07.2015

Vim te achar, duro e melancólico: sob minhas pernas: um olhar consentindo meu rasgo sentimental: pouso minhas palavras sobre escombros: os teus, já não estou morta. Tuas mãos terminam de despedaçar minhas histórias: sou um caminho erótico a ser marcado com pão: roubado pelo pássaro: estou detida na antessala do inferno: estou silenciosamente esperando a minha vez de morrer: exceto à noite: o silêncio tem muita raiva de mim à noite. 

15.07.2015

Faz vinte e sete noites que não durmo. São vinte e sete sonhos guardados no estômago. Vinte sete pedaços de casca de ovo de um almoço do domingo: um inferno familiar: um faca sem fio: minha mãe chorando. Faz vinte e sete meses que não respiro. Falaram-me: é um movimento involuntário: mentiram. Estou constantemente me esforçando para levar ar puro lá pra dentro: onde tudo é uma casa abandonada: um reflexo de mim: um abandono que se atualiza: uma lágrima fresca no inverno: quente como a mão do diabo: tudo corre de mim: tudo: fico com pedaços rasgados de pele: até a palavra é descolada de mim: até eu mesma: e de repente estou num beco escuro sem ninguém: sem a palavra de consolo: faz vinte e oito anos que nasci: ainda estou naquela posição: atravessada entre as ancas maternas: aquela posição na qual não se recomenda nascer. 

15.07.2015

Escrever mil poemas: vestir um surto: chorar lágrimas de 850 gramas: respirar ao avesso: somente um ar viciado do próprio peito: esta sou eu. Esquecer que existe um outro: esta sou eu. Esquecer que existe o mundo: esta sou eu. Amarrada com trinta e cinco nós diferentes, numa corda chamada corpo: por um minuto achei que tu me desatasse, que soprasse minha pele, em todo canto, em todo continente: então: tu me amarra de novo. E eu, escrevo mais mil poemas: visto um surto: choro 987 gramas de: coração apertado. Então o poema me amarra, eu o sopro: o amo: mas ele me amarra. 

15.07.2015

Estou guardando um pedra de carvão no peito. Assim, meio empoeirado, fuligem, manchas, coisas que dizem: não deveria. Penso em entrar num rio, ir mergulhando aos poucos, deixar a água ir escorrendo pra dentro da boca, até que ela encha meu corpo: será que limpa? será que se eu colocar toda a água do rio no meu corpo ele limpa? Dizem que não: dizem que o pulmão pode ser acessado, até o estômago: mas o coração é uma coisa meio que sem acesso, meio que trancafiado: acho que deus colocou de castigo e esqueceu de tirar. Agora, depois de tanto tempo, estou com medo do que há dentro, embaixo, estou com medo da sua aparência embaixo do escuro carbono: desconfio que ele sangre muito, assim, meio que histericamente. 

terça-feira, 14 de julho de 2015

14.07.2015

Teus dedos me abrem lentamente: na ferida, na buceta, na minha insegurança de mulher depressiva: meu corpo é um campo minado de depressões: você é uma anti-poesia que não finge: estou cansada de me asfixiar de palavras: elas nunca afogam: apenas se divertem com a morte alheia; o fato é que você suga de mim todas as palavras: pela língua, pelo seio, você esvazia cada canto do corpo e então encosta: sinto tua mão pura: esquecida do meu histórico de inflamações coronárias: meu peito inchado escorrendo, meu coração infeccionando: você me engole mais fundo que o estômago permite, me chupa, me puxa, me aperta: e eu não sou mais esse corpo doente: estou encarcerada no teu desejo: um câncer apaixonado que tu absorve: penetra tantas vezes, sem pensar: eu sou um problema que você penetra sem pensar duas vezes: uma ferida sem chance de afeto: mas você vem e entra. Sem pensar duas vezes.

14.07.2015

Já fomos engolidos e devolvidos e engolidos novamente: somos matéria regurgitada de deus e eu busco que você me mantenha no estômago ainda que eu te enjoe ou te doa ou te seja um excesso ou plante úlceras por dentro de ti, onde tudo é silêncio e dor. Rezo para que me abrace novamente: vou te odiar profundamente por amarrar meu desejo com os braços, e me mostrá-lo nas tuas mãos, - sempre tive horror de ser gente - e pela primeira vez eu saberei que desejo, verei a cor da minha vontade de não ser mais de eu mesma, mas outra, plantada em ti, amarrada nas tuas raízes, extinta em espécie, penetrada e abatida como animal que morre sem rememorar sentidos: eu gozo e esqueço, e sou arremessada violentamente para o lado de fora da poesia: há um lado de fora: da poética, da dor, da raiva, há um lado que é o lado em que nossas peles se tocam, se esfregam, sem abstrações, ou poesia, ou escapismo: e pela primeira vez eu sentirei o gosto de estar abandonada ao mundo porque você me mantém, você me segura forte o bastante para que eu abandone tudo.

14.07.2015

Agora eu não posso mais: agora estou marcada com brasa no lado de dentro das coxas. Agora eu fiz a curva do centésimo abismo, e você estava ali esperando, e acho que vinha me matar novamente: eu pedi tanto que deus me mandou um assassino, agora cavo desesperadamente minha cova porque meu corpo fica: meu corpo sempre fica depois que morro. Será que depois você me acorda? Depois que eu sangrar todo o líquido: depois que eu arder toda a matéria: depois que eu chorar todo o ácido: será que você ainda me acorda? 

14.07.2015

Dezessete janelas na qual eu pulei e morri. Eu ia sentar na escadaria - saída de incêndio - sempre - tinha tanto frio. Minha pele já era cinza, eu já era cinza, meu coração já era cinza; eu era um cigarro que não se consumia, eu guardava cânceres numa caixinha de música, esperava eles explodirem nas mãos, enquanto o fogo chegava, mas não: ao invés disso: a doença respirava o silêncio, e cuspia um silêncio com força em retorno, e hoje eu sei que músicas não dizem nada: e que aquelas bailarinas que dançam em cima são feitas de plástico.

14.07.2015

Eu deságuo dores como oferendas a uma deusa carnívora esquecida no litoral abandonado de um país terrivelmente triste, ela: terrivelmente magoada: eu: terrivelmente alguma coisa que ainda não peguei com a mão. Costuro cílios com lágrimas: ninguém sabe, mas é apenas para não dizer: choro porque não posso dizer: porque quero fechar, ir embora, partir, sair, morrer, recolher, e tudo aquilo que for tirar, apanhar o objeto no calor, onde o coração dele bate, e levá-lo embora de todos os lugares. Ejeto carne dos olhos: meu choro é monstruoso: não sou uma garota a ser consolada: sou eu o próprio consolo do mundo que chora: eu vim onde tem dor, e eu fiquei. Iemanjá come areia, enche o estômago, dói, dói.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

13.07.2015

Abre a uva no grão com a boca e cola teu alcoolismo desesperado no meus lábios: onde eu não pude mentir, nem deixar de dizer que: tudo era brasa. Encontra a menor semente, o sumo, o segredo, e o rasga: penetra. Choro no corpo, como quem procura e nunca te encontra, mas você se lança no meu abismo, sempre, e te encontro lá embaixo: onde exponho a carne, o cheiro, e a língua.

13.07.2015

Centro e dezoito hectares de um coração que sangra: carrego muita terra inútil no meio do peito. Aos poucos ela sobe, a sinto no esôfago, vem assentando tudo como um enorme alicerce, exceto que: não há construções ao meu redor, tudo esmorece e cai enfraquecido. Inclusive meu corpo. Inclusive o corpo que sou eu, pronome possessivo que me diz: sou vazia: nenhum alicerce plantou em mim a flor da mentira, essa que faz fé, faz amor, faz correr tudo que for caule e pau ereto e sangue fértil e excesso de leite no seio, eu nem sei dizer sobre essas coisas que não sejam fome, exceto que: me falta a comida mesmo quando como, porque eu sei da existência do tempo: me advertiram: foi deus, foi o diabo, foi a boneca que eu cuidava fingindo maternidade, ou ainda o diário guardador de dias expelidos em série pela minha vida, alguém me avisou que o tempo existe, e desde então, eu choro em cima do tempo.

domingo, 12 de julho de 2015

12.07.2015

Teus olhos rochosos, teu verde de planeta desabitado na retina: meu reflexo, meu esconderijo de infinito vazio, marte em chamas silencioso, chorando no buraco negro que é o universo, teus olhos comendo minhas lágrimas: tua boca me comendo, tua boca engolindo o abismo que é meu coração: um salto, uma queda desordenada, uma dor, uma gênese de selvageria que não se conhece a ética: é boa? é ruim? é um sofrimento? é um prazer? é tudo que o homem pode tocar, é em tudo que você me toca.

sábado, 4 de julho de 2015

04.07.2015

Vamos escutar o non-sense: se escutarmos: acabou-se. Temos uma nojenta mania de fazer sentido. Corri dos precipícios desde menina, e até gostava da fuga, uma coisa que acelerava meu coração ainda pequeno, e que batia porque nasci: sempre foi tão pouco ter nascido.

04.07.2015

Em mim existe um tráfego interrompido, desde aquele café da manhã asqueroso, a azia foi tanta, que não aceito nem devolvo mais nada. Eu tenho um excesso de vírgulas: justificativas mal fadadas. Agora, só falo aquilo que continua, sem interromper a tragédia, para ver se palavras emendadas possuem sentido. Nunca encontrei o fio de arama enfarpado que amarrou meus dias. Agora eu abro janelas, e elas mostram uma vista bizarra, uma psicodelia de droga que eu não usei, um porre da cachaça que não bebi, uma mágoa do amor que eu nunca tive, e por isso mesmo, bem por isso: exatamente por isso ela faz todo sentido: caminhei a vida toda em cima de coisas que não possuí, e pior, que nunca me possuíram: eu estava dada de presente a coisa alguma. 

04.07.2015

Por piedade tiramos do cadastro de patologias a fé. Eu não fazia parte da unidade. Nem de fiéis, nem de ladrões, nem de bruxas, ou talvez de consumistas, ou ainda de melancólicos, ou quem sabe um grupo qualquer dos sem-grupo, uma unidade faminta, nem dessa eu fazia parte. Na minha sala eu conversava com a minha estátua dourada de elefante e fingia que ele ouvia, apesar de nunca fingir que ele respondia, porque eu não era criativa o bastante. Tiramos dos quadros paranóides a minha sensação de ser ouvida e nunca respondida, porque gritava até que o grito tocasse o gesso e também se tornasse um objeto da feitura humana civilizada, interessada, artística, propositalmente religiosa e política, eu leva o grito de dentro da selvageria até o organizado altar de uma estátua de cinco reais pintada com spray e surda, completamente surda. Mas eu fingia também que me importava. Se eu fosse ser ouvida, com certeza não iria querer o ser por deus, nem por um elefante dourado, e também não pelos políticos, e nem pelo pastor, muito menos por algum melancólico, nem pelo comunista, ou direitista, menos ainda pela bruxa, e na verdade, se eu conseguisse me ouvir direitinho eu já me daria por satisfeita, eis porque não sou unidade de ninguém.

04.07.2015

Maquinaria anticristo, o meu corpo, sempre abraçando fobias e inseguranças, um lugar queimado no centro, só uma marca de cigarro que ninguém nunca fumou, exceto que a marca está lá. Eu era essa tristeza estética porque no fundo não havia motivos: meu coração se contorcia por besteiras, por não saber como se mover ou ainda porque ficar parado era difícil. Eu era superficial. Eu era um oceano inteiro sem água, e o lábio sempre salgado cheio de palavras ressecadas, não se fez linha nenhuma no meu horizonte. 

04.07.2015

Conforme se abre, mais rigidez se encontra, no coração, onde ele dói mais e sangra com mais força, não é como abrir, mas sempre: desenterrá-lo de si, um nó de nascimento, de possibilidade, um nó de melancolia sanguínea, e a carne precisa do laço para se manter tenra e unida. Estou com medo de. 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

01.07.2015

Caminhei entre dois planetas, o sol a me arder nos olhos, e no desvio, um negrume intenso, tudo o que eu não tinha a me socar nos olhos.