segunda-feira, 31 de agosto de 2015

31.08.2015

Eu faço um poema assassino porque o mundo já gira parado o bastante e você sai ileso dos dias como um grande sol que me aborrece os olhos. Abro as persianas e você está fazendo alguma atividade burocrática de quem está feliz e não se dá conta enquanto eu estou  no ralo do banheiro largando sangue branco ensaboado com suturas rompidas mentirosas, eu sou um exagero. Enquanto você bebe uma cerveja sem álcool: você não tem colhões alcoólatras: eu estou derramando meus cabelos pelo quarto como uma bomba de efeito quimioterápico do câncer que você meteu em mim com força. Gira a chave. É um outro disco. Outra história. Apartamentos sepultados na principal avenida chamada: minha burrice apaixonada. Entro - des-toco cada objeto para que tudo venha até mim como uma ogiva que explodisse para dentro: você mete em mim com força tanta mentira: e cerra os olhos, as vítimas, as vísceras da desculpa: três caixas padronizadas de covardia: cápsulas de morte: meu olhar preto de mulher chorada: meu olhar subindo as escadas da melancolia: meu olhar explodindo mais forte que enxaqueca. Não morre tão cedo andando com esse passo cronometrado, não morre tão cedo nem tão perto. 

domingo, 30 de agosto de 2015

30.08.2015

Bifurcação de território anônimo. Tempestade de mágoa: um céu noturno. Teu olhar francês de cápsula de remédio: gosto alienígena na minha boca. Não fomos longe, fomos à tua cama. Teu sêmen era a urina de um cachorro, anonimato cheirando azedo no meu corpo. Nós como o diabo encolhido, nas costas, líquido desmancha-desespero: os anjos são abertos, espalhados e livres: nós descemos mornos pelas pernas: anonimato de melancolia. Tuas clavículas de horizonte: a minha noite expande. Acredito que o anjo escape pelo seio, quando tua mão alcança a pele. Quinze minutos de silêncio: a boca com palavras enterradas, descansando em paz na tua língua. Bifurcação de desculpa para a morte.

30.08.2015

A célula apaixonada do corpo, o retalho indestrutível da memória. A cerveja esquentando como uma promessa de indigestão. São Paulo morta do lado de fora da janela. A depressão cantando alto enquanto faz o jantar: comemos e repetimos. O corpo é penetrável mas intransponível. Arrebentamos portas e choramos com elas abertas: não há buracos acessíveis. Nos tocamos com as pontas dos dedos. 

30.08.2015

As palavras estão em latas de tinta e lá diz: inodoro. As palavras do poema estão vedadas na lata: uma camada plástica de tinta sem cheiro: a tecnologia do vazio. Uma camada de olhos presos na parede branca, um observatório paralisado. O fracasso lubrifica o olho, o olhar nem tanto. As palavras estão sendo mexidas como cimento. 

30.08.2015

Características opacas do isolamento: um folder pendurado na porta da minha vida: não ultrapasse, não perturbe, não contamine a cena do crime. Ou entre pela beirada, desate um nó, e fuja. Estou silenciosamente esperando que um cano dispare um significado, que me ame a ponto de me tocar no peito, como alguém que me atravesse, ultrapasse, perturbe, contamine com meu sangue estes objetos da indiferença. 

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

27.08.2015

Eu olhei minhas mãos pela centésima nona vez e elas estavam tão brancas como quando eu nasci ou seja vazias: as veias mostrando destinos de ciganas burras e que deus me perdoe destinos com o cheiro das roupas encardidas delas. O meu destino fede, de trás, de frente, de quatro. Pus, cicatriz, chorinhos infantis, bonequinha que fala eu te amo com a pilha vencida, eu era uma máquina de poemas quebrada, como a jukebox tocando uma desgraça sem parar, à exaustão, a loucura entrando só um pouquinho como um virgem que quisesse meter com força mas que tivesse medo: vai que. vai que. O medo inchando as bolas: o teu esperma era encomendado em série pela agressiva distorção do amor: não sejamos covardes, olhe as mãos vazias, não sejamos tão pueris, a loucura batendo na porta da cabeça como testemunhas de jeová, cobradores de uma conta que muito te envergonha de ter feito e que você se sabe incapaz de pagar: aquela coisa apertando o peito: o erro. Eu olhei no buraco da fechadura e vi: você gozava, gozava e ria do meu fedor de desgraça. 

26.08.2015

Eu tenho ventrículos no peito como caminhos ocos para a solidão inchar. O coração batendo em mim. O coração me bate como uma indústria magoada com a civilização. Eu carrego suturas imaginárias que me permitem respirar: pontos que rompem: cicatrizes que desprezam os sonhos: meu lábio o sucesso da anestesia. Durmo com o inconsciente aberto: retornos na via de mão dupla da minha alma.

26.08.2015

Rompe o tendão e a esperança: metais pesados demais para o meu corpo contornado de: luz ou fraqueza ou aquilo que foge do mundo sem saber pra onde está indo. Mesmo quando eu chegar eu não vou saber pra onde estou indo.

26.08.2015

Desci três ou quatro degraus do meu espírito, sentei e silenciei o corpo parte por parte: não fazia mais esse ruído, o de existir. Eu era um túnel escurecido no meio da estrada, as bordas iluminadas pela vulgaridade da mão humana, as lâmpadas, e a noite plástica, as lâmpadas e acidentes iluminados nas extremidades do túnel que eu era: o núcleo cada vez mais escuro e silencioso: sem esse volume chamado: tragédia de se encostar nos outros: carros, corpos, dedos: extremidades líquidas e puras, o amor sofre acidente nas beiradas do corpo: o núcleo sofre a esquizofrenia de uma repetida contração escura e eu descia três degraus de quietude de uma vez só, só de olhar a luz jogando violência sob as minhas extremidades.

26.08.2015

Nebulosas estomacais: as patas de um cavalo que eu digeri. Nunca vesti branco. As folhas secas de minha orquídea eram um catalizador de desprezo. Eu buscava amores em praças vazias pela madrugada, as luzes da cidade eram delatoras de crimes e também do desespero humano: eu andei mais que pude, até onde não havia mais um caminho, continuei após isso, mais três mil quilômetros. Eu nunca vesti branco e quem sabe vomite as patas do cavalo que eu não digeri ainda esta manhã. Supernova em enxaqueca, minhas pernas recheadas de alma e aquilo que canibais comem. O despropósito universal dos meus dedos: sementes sem chuva, meus dedos, apenas os teus úmidos pela minha fraqueza, vingavam no mundo. Eu recheada de ossos e desesperança: escrevo poemas com patas de cavalo na falta de dedos hidratados. Estrela morta, buraco negro, e a fotografia mais profunda: durmo porque tenho sono, e o sono é imenso.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

22.08.2015

Três doses a menos de cachaça pela manhã e um planeta teria explodido dentro da caixa craniana. A isso chamamos de causa-efeito do meu fracasso. Três doses a mais e eu teria permanecido no teu colo, as pernas estariam abertas por um tempo psicótico e um planeta explodiria mais abaixo, no corpo. A isso chamamos de amor. Três longos minutos onde Ariadne plantava nós no meu destino: 37 nas minhas costas, carrego um tanto de álcool que faria o mundo inteiro sonhar e dizer: tenho medo. No corpo como uma onda elétrica, o álcool chegava ao fim depois da correria que é ter esperança: uma onda de melancolia como um aviso corria pelas pernas: pesavam como pequenos blocos de chumbo nos calcanhares: não dei o passo, não transformei o corpo, não sonhei com o futuro. Explodir e esquecer, apenas.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

19.08.2015

Árvores de silêncio crescem para além do tempo - que é a palavra. O vento espalha o deserto no mundo: o chão dói mil raízes que são como cicatrizes no solo: vaza palavras pelos ramos: ele espalha os segredos através dos galhos que são como túneis levando o morrer para o meio das folhas, espalhar o silêncio num espaço grande de céu: secar.

19.08.2015

Nomeio-me estranha. Desconheço o caminho. Faço curvas como quem fechou os olhos e andou. Não me levo a lugar algum, mas ando por psicose induzida. Meus afetos foram enterrados aos meus pés, da terra ainda brotam palavras - o horror ao esquecimento - o que é plantado na teia da minha vida não mais se desenrola de mim - o horror à lembrança: nomeio-me célula perdida, os galhos da memória adornam minhas pernas, ervas daninhas eróticas, semeiam identidades: mulher enfraquecida, mulher esquizofrênica: na boca o poema: e me nomeio: ficção. Memorial de não olhar no espelho: o coração anda e fecha os olhos

domingo, 16 de agosto de 2015

16.08.2015

Mar-morto. Acordei dentro. Lambi o sal, a ferida e a cruz: agora estou guardando mágoas nos bolsos, e tua saúde cristã aperta os nós das minhas patologias; as enxaquecas, os gritos que transformavam as noites em círculos, a foice que recolhia as palavras. Acordei no mar. Lambi um morto, costurei sua ferida: agora estou guardando ingratidão na sola dos pés, agulhas discretas, segredos, poemas, o dia todo em pé, sem ter por onde andar, pequenos círculos que rolam das mãos, esfolando dedos, discernimento de purgatório: uma patologia em construção: um edifício morto: a fantasia feita de areia e lágrima: o pilar central, um tijolo de seis furos, sete furos, um tijolo feito só de furos: estou perdida no mar.

16.08.2015

O estado meditativo do meu fracasso: bato a porta de casa às três da manhã, chego sozinha da rua, e entro sozinha em casa, e na casa há a solidão das portas batidas pelo vento. Agora eu também bato: espero acordar do coma alcoólico, venho de longe com mil e trezentas histórias: apenas silenciadas pelo teor incisivo da cachaça. O meu estado meditativo de: dormir e babar, onde eu estiver e deixar que os sonhos apareçam como personagens de uma tragédia, o inconsciente chora pra ser libertado todo dia: o cheiro de vômito arde nas narinas e o acorda sorrateiro, venho de longe, lá onde a censura come amoras e se lambuza e diz que: a solidão bate portas às três da manhã, todas na minha cara todo barulho me acorda, o choro manso da porta dos fundos da casa.

16.08.2015

Misturo sonhos aos pelos pubianos, enlaço com as coxas o desejo e a tragédia. Havia um segredo insone na cama: teu pau ereto destituído de história. Agarro a invenção, de costa, inclinada; molho a mão, a saída e o silêncio, a tua boca morde o meu coração cansado: a pele é uma fábrica de palavras. Misturo sonhos ao teu cheiro, enlaço com as coxas a tua desgraça: na tua cama a ficção da morte: o gozo, o sono, o poema, apenas, e apenas é o bastante para a falta.

14.08.2015

Sou um saquinho de órgãos magoados, de pelos cortados em incisão transversal, via análoga ao assassinato a facadas do meu tataravô que culminou na depressão do sucessor e causou um derramamento de afeto no cérebro do meu pai: ele ficou sequelado. Sou a mágoa de um órgão ensacado pelo corpo: distinto daquilo que ele próprio sente: objeto distanciado, vivenciado no contorno do crime, o pudor e a civilidade e também a matéria que o sufoca, o próprio pescoço incha, se devorando.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

10.08.2015

Limites linguísticos, azeda a flor - a palavra: o derretimento de significado - falsa-solidez, falso-gosto, falto-aquilo-que-me-tocou - o limite linguístico: azedo o ato - a flor ao sol, exaurida - teatro de expectativas - palato amaldiçoado: voa longe, eternamente, para dentro: limite linguístico - apaixonado - paladar encarcerado: pela palavra e a distância - o inconsciente molda a aparência: do mundo - nada sobre a língua: a palavra murcha - o gosto falho: limite linguístico ramificado: nos poemas, lábios, e cortes: suturas, ervas finas, coração partido.

10.08.2015

Aquela aquarela macabra - iluminada - na sombra: um estampido, um diagnóstico - a fantasia do homem no teu corpo - a quentura de uma tarde de segunda. Países de distância daqui do centro, de onde eu resvalo do mundo. Não me toma a mão a partir do nunca - não vamos, não e outros quinhentos: negativos do meu coração aos pedaços - não me masturba ainda que chore - o gozo é o segredo da morte, apenas porque é um esquecimento, o limite pós moderno do meu fracasso. O cheiro da flor avisa a morte, o contra senso poético do acabamento: em ramos secos, folhagens podres, úmidos pastos - amor de pântano, a mão alheia, a sacanagem - mil borboletas dentro do frasco: esperando a mão que abre, torce, apanha: meu coração aos pedaços.

domingo, 9 de agosto de 2015

09.08.2015

Há um maço de melancolia aqui em cima: eu fumo o poema mas ultrapasso o limite. O coração é um nó abandonado, esquecido no cais num dia chuvoso. Nunca iremos longe, no entanto, estamos longe, a nau afunda menos no mar que no peito, Submerso nosso pavor, e também o sonho, roxa a palavra, azul o lábio, cinza o peito: estamos longe ou afundados ou perdidos.

09.08.2015

Língua de vagabunda ferida: em lapso holístico: em corte cirúrgico de patologias da fala - língua de vagabunda com sede - em queda na areia do: deserto do Saara. Língua de mulherzinha alcoolizada: discursando mágoas, alaminutas solitárias: presentes de domingo. Língua de resina - pálida - a palavra oca - trincada no meio - no seu orifício genital - língua de ejacular na insegurança - oral de pobre de espírito. Boca fechada: com argamassa no céu - da boca - o pássaro: empalado: empalavrado: disfarçado de demônio: choro cítrico: conta gota - placebo melancólico de amores perdidos - chora, querido, chora e voa - e bate a cabeça no céu da boca, e bate o pau de quem tu ama - e engole o choro em seguida: um edifício de palavras conduzido à saída de emergência do corpo: faço amor, canto, voo: digo.

09.08.2015

Não conto a ninguém: o azul lábio de um necrotério, desde tua partida, emprestado ao céu, um espanto, uma queda, o copo quebrado aeternum, o estampido do caixão ou da madeira ou daquilo que cresce depois da morte, os meus cabelos na tua cama, espalhados. Não conto a ninguém, meus pulsos quebrados pelos desejos, três pinos e meio e uma enorme esperança: um talo de gesso secando ao silêncio do nosso olhar de testemunha encrencada. Não conto a ninguém que fico: num fantasmático apartamento: a tua quente cerveja embrulhando o estômago e o carinho mais que uma mulher com bulimia aguenta. Não conto a ninguém que te amo, ainda que te veja assim tão animal abatido, tão indesculpável na covardia, e inútil do tipo que não fantasia o gozo, gosto das coisas tão sem propósito, e as que não ejaculam, especialmente: os que sempre guardam a falsa promessa. Não conto a ninguém que te acho: tão parecido com o mundo e mesmo sem culpa, eu te perdoo. 

09.08.2015

Não posso tomar banho no teu apartamento: deixar moléculas de arrependimento pelas paredes, uma camada grossa de limo, meu coração nojento: tudo banhado em vergonha. Lavar de mim teus pedaços líquidos, tuas mentiras quentes fugindo das minhas pernas, a comunhão do desespero indo embora. Sinto-me absurdamente silenciosa: desde que enxaguaram minhas histórias: de amor, as mãos crescendo poemas entre: os toques dos nossos dedos, me guarde sempre onde nasce a tua escrita, ainda que jamais diga, jamais me diga: preciso da tua palavra ou do poema ou da mentira.

sábado, 8 de agosto de 2015

08.08.2015

Estranhamente eu te fiz um pássaro: um the birds hitchcockiano multiplicado. Eu te larguei no céu azul, aceitei o silêncio do campo sob o sol, queimei meus pés para te ver voar. Você volta aos milhares, repetido, violento, você volta chorando voos, deprimido, fracassado, oprime minha chance de também voar, para baixo - onde me sinto mais livre. Tantas asas batendo em desespero: meu coração deslizando para o meio da noite, sem suporte, sem carinho: tantas asas batendo.

08.08.2015

Árvores exploram o mundo com galhos inertes, suas folhas derramam segredos quando o vento é forte, levam para longe a dimensão da noite, a fundura do lugar das estrelas, e também afastam a centrífuga força do buraco negro. Do mundo eu não quero mais que me sentar embaixo de alguma delas, e a sombra demarcar o lugar limite para os fantasmas. As portas dos sonhos estão constantemente abertas e por isso estão constantemente sendo violadas. Nunca sonhei para fora. O meu nascimento é o fim de uma ditadura, o começo de uma nova. Sou eu mesma a sombra do fantasma que se esquece embaixo da árvore; não quero ir longe, quero ir apenas para dentro da tarde azul onde os pássaros dormem desassustados e os segredos não voltam. Cada galho é um caminho que eu não quero seguir, cada um igualmente desimportante para quem está sentado à sombra de si mesmo. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

07.08.2015

Meus barulhos poéticos: um copo de vidro derrubado na sala. Há um suficiente números de estilhaços, e um suficiente número de decepções: vá embora antes que se corte. Saia antes que se veja num pedaço de vidro: você é uma vergonha narcísica, apenas um barulho de um vidro inutilizado: um acidente: uma cicatriz que cresce em mim diariamente: não corto mais a mim com os teus pedaços: a poética está alucinando suturas: delírio de ferida aberta: minha boca é um corte que vaza.

07.08.2015

Não solte a minha mão ao dormir. Ar, pressão, luz e uma tristeza jogada na cara. O universo inteiro respira e sofre asfixias, engasga: traqueostomia de fundo de peito: um atalho mais apertado que o abraço, o caminho errado, a constância. Aqui dentro a luz vacila: a qualquer momento recebo o corte, estou sempre aguardando as mentiras fazerem efeito: eu me perder no escuro. Não solte a minha mão, selvageria, mas engrandece o confuso. Se o infinito não tem tamanho, tão pouco lugar exista que possa dar conta: estou atualizando mágoas, estou constantemente precisando de espaço. Estou sempre soltando a mão enquanto durmo.

07.08.2015

Artesã costura os pulsos em vermelho e dorme o resto da tarde. Contei sete longos golpes de mentira: o último dele ainda guarda sequelas como a caixa preta perdida na floresta, o segredo do desastre, a absolvição, o instante da morte: tudo canta uma música no coração preto da pandora. Chove na floresta e os segredos se desmancham onde são também intocáveis; teu rosto era uma matéria incompreensível de sentido de vida, agora a mentira é o sentido de vida sem teu rosto, e nada é verdadeiro quando é construído: a natureza da industria afetiva: meu corpo, teu corpo, uma fórmula subjetiva de arames que se enrolam: estou gritando na caixa preta não localizada, sendo desmanchada como teus segredos na chuva, todo dia um avião cai no coração da floresta.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

06.08.2015

Meu nome de pupila incerta: no olhar a operação cotidiana da morte. Escrevo motivos, tenho 267 motivos, todos chegam depois do desastre: a poética do covarde. O golpe da faca sem fio, um despejo bulímico fantasmagórico, a compulsão sanguínea metafórica: o poema chora para dentro. 

06.08.2015

A natureza curadora do poema não foi o bastante: enrolo-me de palavras, estou fingindo o infinito, nem assim há espaço para aquilo que precisa de espaço, aquilo que cresce no passado e continua. Mas não há outra via-láctea, fico aqui mesmo quando a luz apaga, a cadência, a constância, o desespero: o universo é silencioso e respira pesado, durante à noite, enquanto eu procuro a mão que vai segurar a minha e mentir segurança. Estou precisando de um espaço infinito por dentro: um pouco maior que o poema.

domingo, 2 de agosto de 2015

02.08.2015

Entre o sonho e a vértebra existe a fratura exposta. O escombro assenta e faz um prédio: a síndrome, o ar, aquilo que engulo apodrecido: um edifício doente. Sou feita de barro e palavras, mais palavras que barro, mais desespero que ossos. Deus me quis sonhando a morte. Encontrei dezessete almas humanas no final da rua, todas chapadas e alegres exceto eu que me droguei uma única vez e foi para sempre. Entre o sonho e eu existe a vértebra e ela está quebrada.

02.08.2015

Você me cresce, por dentro, sentada, em pé, você me toca e me diz que há lugares aqui dentro que eu desconheço. Nasci sabendo que nunca seria preenchida. Nasci sabendo que entre uma coisa e outra se faz a distância ainda que a menor, e o desejo de engolir, chupar, trazer pra dentro não é mais que o sonhar e chorar o sonho todos os dias.

sábado, 1 de agosto de 2015

01.08.2015

Encher as veias até que se derramem os argumentos, para fora, a seringa menos descartável que meu peito: tão poluído. Minhas metástases: você, e você, e você. Interminável você.

01.08.2015

Eu te desconstruo toda vez, para que vá parar novamente nos meus pulsos, os mesmos enjaulados no momento em que você se enfiava: eu deslizo meus desejos para fora, cinquenta e sete vezes, ao te ter por perto, pelas pernas, ao te ter por perto, escorro você toda vez, e ainda mais uma: tua umidade é minha língua.

01.08.2015

Estou escorregando da tua pele aos poucos, e me agarro: o calor é meu e me perco - entre os sentidos que se dispõe na cama: teu abraço é apertado. Seguro carnes animalescas que separei para o jantar, não entendo a morte, a fome, ou ainda o vermelho. Bukowski chora entre uma ensaboada no saco e outra: aperta a vagina da mulher que ama: aperta até que o choro venha: o desespero. Estou escorregando do sonho aos poucos. 

01.08.2015

Desconstruíram minhas pernas, no sonho, andei com bonecas partidas - nos joelhos - sangrando memórias falsas - e vi de longe as mentiras que engordavam meus passos: todos na mesma direção. A morte sempre foi uma espécie de promessa falsa.