segunda-feira, 9 de junho de 2014

Trilha I

Ando cansada de você, fantasmático,
de ter você na minha mesa de jantar
toda noite.
Estou sem voz a gritar que saia.
Já não me importo.
Já te olho nos olhos de morto,
a te imitar no olhar que nunca pretende,
que não percebe o arredor,
que não olha nem pra fora, nem pra dentro,
mas cravou-se em si, como um embrião
que se engole pra tentar a vida.
Estou machucada de ter você por perto,
já não me importo.
Desisti de pedir que saia, e agora
eu reparto o pão nessa mesa,
essa trilha cujo pássaro reteve dentro,
cruelmente faminto,
esse caminho que retornou até onde
não havia mais luz.