quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

26.02.2015

Há quinze anos sofri um desmaio. Um pequeno segundo iluminado de inconsciência - ser levada ao invés de ir - alguém monstruoso me pegando docilmente pela mão, e puxando, o corpo seguindo macio e delicado até que tudo fosse rompido pela queda, uma folha de papel rasgada, o incômodo da existência. Tinha gosto de luz. Fui obrigada a levantar, tomar alguma água nojenta cheia de açúcar - Deus sabe que isso não tinha força alguma - o despropósito das ações e consequências, tudo desatado, o mundo é um cadarço desamarrado e todos seguem caminhando. Escondi de todos que, na verdade, nunca me levantara. Preguei as mãos no local do incidente e sentia sempre a barriga sendo sugada pelo lado oposto, mas nunca o suficiente para me arrancar de um desmaio. Essa sutil violência era um prazer, como qualquer efeito de entorpecimento, qualquer droga que potencialize a característica humana de ser um ignorante e apenas ir porque é levado. No lado de fora do desmaio, a vida era uma escadaria imensa, e se não havia nada no topo, o fim era a porta de um manicômio. Segui fingindo que subo, no meio dos outros loucos. Enquanto isso, meu desmaio chegava ao fundo do oceano, um lugar gelado, e eu excitada, fazia amor com um homem igualmente perturbado.