quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

26.02.2015

O corpo é um lacre. Apesar da boca, dos ouvidos, nariz, ânus, vagina, qualquer abertura física. O corpo é um pacote a vácuo, apesar dos líquidos que escorrem, lubrificação, urina, fezes, muco, sangue. O corpo é um saco que infla, um hematoma gigantesco de algo que não conseguiu sair. O corpo é uma história que não vaza. O sexo sempre era uma tentativa de aborto. Por poucos segundos era bem sucedido. Essa bolsa embrionária perversa era penetrada sem a menor das piedades. O feto era salvo de uma criação esquisita, uma terrível sentença de que ele também seria um pequeno conteúdo com tripas apertadas, pulsando e doendo, assim e também sangrando, porque queria existir e mesmo tendo nascido, ninguém podia. Ninguém podia existir. Depois do pequeno aborto, o corpo que era uma invenção diabólica se reconstruía célula por célula. O orgasmo nunca pode durar mais que um momento ou dois. Então, tudo estava lacrado novamente.