terça-feira, 7 de abril de 2015

07.04.2015

A força das patas do cavalo não o levavam pra frente, mas marcavam a terra com os cascos e o impulso se revertia em compressão. A intuição o faria se enterrar ao invés de fluir. O cavalo cuspia sua liberdade com desprezo de quem já correu e descobriu que a liberdade não tinha fim, porque a morte era a privação e a infinitude era um cárcere mais impiedoso do que o impedimento. A liberdade era uma anti-vida porque carregava em si a eternidade. A dona desse animal era uma índia cujo ritual de reverência à natureza fora trocado pelo ritual dos cortes sem suturas, uma invasão da civilidade marcado no vermelho do sangue, um coração azul inchado, escorrendo pelas pontas seus fluídos, sua afeição. Como a pata do cavalo, o coração se comprimia e buscava o enterro.