terça-feira, 7 de abril de 2015

08.04.2015

Estou na água. Aquela água cinza. Estou boiando. Estou agarrada ao meu ursinho que se encharca de podridão. Estou pesada como um urso encharcado. O colo do afeto chamado pneumonia. Estou ouvindo uma caixinha de música a rodar no centro do ursinho. O meu coração nunca girou como a mola de uma canção. O meu coração sempre rangiu. Abri a porta e entrei em um lago. Estou na água. Afundando. Estou confundida com meu urso, encharcada com meu choro, enterrada no que umedece a terra. Estou impedida de ressuscitar. A cada segundo o afogamento se renova na boca, no nariz, no peito.