segunda-feira, 18 de maio de 2015

18.05.2015

Atiro-me no escrito como a mulher se atira no lago, com as palavras nos punhos como pedras nos tornozelos, exceto que: não me afogo, não morro, não afundo. Meu corpo retorna à superfície porque as palavras que me prendem no fundo não são pesadas o bastante, e a ingratidão da vida me puxa os braços, é leve, lenta, e meio molhada pela água do rio. As palavras não se decompõe na morte. Eu, há meses, esquecida no rio, como uma corpo não identificável, os pulmões acusando palavras que impediam minha morte constantemente, repleto delas, uma traição conjugal, o primeiro suspeito do meu fracasso de suicídio, ainda amo, ainda falo, ainda devolvo a água pela boca quando me socam o peito, mas a verdade é que não me socavam com força o bastante, e lá no fundo do rio nem deus sabe o que foi que eu engoli junto da água, do sal, do escape da morte, junto do silêncio de ter que viver, continuar. Espero o soco, o desfibrilador violento de uma mão que me odeie, alguém que me faça vomitar a palavra que me afoga, exceto que não há palavra capaz.