sábado, 4 de julho de 2015

04.07.2015

Por piedade tiramos do cadastro de patologias a fé. Eu não fazia parte da unidade. Nem de fiéis, nem de ladrões, nem de bruxas, ou talvez de consumistas, ou ainda de melancólicos, ou quem sabe um grupo qualquer dos sem-grupo, uma unidade faminta, nem dessa eu fazia parte. Na minha sala eu conversava com a minha estátua dourada de elefante e fingia que ele ouvia, apesar de nunca fingir que ele respondia, porque eu não era criativa o bastante. Tiramos dos quadros paranóides a minha sensação de ser ouvida e nunca respondida, porque gritava até que o grito tocasse o gesso e também se tornasse um objeto da feitura humana civilizada, interessada, artística, propositalmente religiosa e política, eu leva o grito de dentro da selvageria até o organizado altar de uma estátua de cinco reais pintada com spray e surda, completamente surda. Mas eu fingia também que me importava. Se eu fosse ser ouvida, com certeza não iria querer o ser por deus, nem por um elefante dourado, e também não pelos políticos, e nem pelo pastor, muito menos por algum melancólico, nem pelo comunista, ou direitista, menos ainda pela bruxa, e na verdade, se eu conseguisse me ouvir direitinho eu já me daria por satisfeita, eis porque não sou unidade de ninguém.