terça-feira, 5 de julho de 2016

05.07.2016

Escrever no estrangeirismo da palavra, 
escrever onde não estamos, principalmente, 
na palavra, 
escrever onde é confusão e onde é sombra, e 
não somos nós, especialmente a palavra. 
*
Borboletas não se entediam, borboletas não pensam, 
não percebem que pousaram no meu café, e elas não
precisam de café, porque borboletas não são sombra, 
não são confusão, não são especialmente a palavra. 
*
Na minha cama, as aves fazem ninhos para seus filhotes
obesos, e eles não são principalmente a palavra esquizo, 
não são também a estranha percepção de que camas 
não são ninhos, afinal, e talvez sejam especialmente, 
palavras. 
E, para onde vou, eu pretendo destruir toda palavra, 
e enterrá-la, e criar um altar, e rezar uma prece de 
babas e outros líquidos, talvez, talvez, eu disse, só talvez, 
eu também urine nessa maldição que é a palavra, e 
vou plantar todo tipo de flor em cima desse túmulo, e elas crescerão, 
e ficaram coloridas como as borboletas que não se lembram 
do tédio em que vivem, e depois elas morrerão, porque é assim que deveria ser, é assim.