sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

31.01.2015

Um deserto em degraus que descem, ao final, uma única árvore. No seu galho seco, uma única mochila rasgando na alça, a gravidade desértica, o peso, o fundo falso do pacote, e depois deste, mais outro. Estalos e ameaças, a árvore fala. A aridez fala. A tristeza fala. A solidão fala. O centro da árvore úmido, verde, esquecido e transtornado. O homem esquecido na raiz. Convite do diabo. A porta da árvore entreaberta. 
O contato: os pulsos são acessos. A tua agressão me acorda. Eu estava linda e não era eu, já havia me libertado de mim. A violência das tuas mãos lentas nos meus seios: a demora é violenta, a delicadeza desse toque é um fundo falso a esconder minha morte. A inauguração da minha pele. A explicação mansa da posse. Você me acorda e retém cada face minha. Depois me dopa, e eu durmo.