domingo, 1 de fevereiro de 2015

01.02.2015

Este espinho que guardo na boca, você não o entende, mas finge.
Eu, uma mulher amarrada pelas pernas, também finjo.
O espaço sempre manso com seus odiáveis pássaros que caem e caem
sempre caem como um som que abre um céu, um caminho, e também
aquele barulho que não se sabe o que é e é tudo o que está no mundo,
aquela coisa que os débeis chamam de vida e que eu chamo de
tempo maldito que nunca cala a boca. Este espinho cuja estupidez de uma revista
chama de tpm, a estupidez do psiquiatra chama de depressão, a estupidez do poeta
de melancolia e toda estupidez sempre chama. Eu com essa chaga maldita
a buscar no alcoolismo um reverso medicamentoso, não me enganam aquelas
caixinhas com suas faixas medonhas dizendo que podem te matar ou te salvar
ou qualquer coisa que te atingisse, e você ainda finge que funcionam, porque dorme,
e isso deveria bastar. Por que diabos o mundo tem mil anos e ainda a verdade
não é coisa que escorra dessa boca espinhenta feito sangue novo e fresco?
O cheiro, sempre o cheiro, de morte, de agressão, de penetração repentina,
qual é o corpo que está preparado para essa desordem do mundo?
A faca cotidiana não pode fazer buracos nos meus pulsos. Alguém poderia
dizer qual é a utilidade deles senão essa ponte pulsando sangue, um toque,
uma junção, uma coisa sem forma-face-sentido, um caminho disfarçado até
sabe-se deus onde, porque não sei por que é que tenho mãos. Não gosto da poesia.
Assim como não gosto de flores plásticas com seus espinhos metafísicos patéticos.