terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

03.02.2015

Conheci algumas pessoas que eram marcadas por uma identificação de escravos. Pessoas cuja dor tinha o papel de amansar, cansar, abater. Acho que eram pessoas que fariam muita coisa se não apanhassem, então viviam apanhando e ficavam sem incomodar ninguém. Pessoas acostumadas a caminhas em estradas de morte sempre. Criavam, como a dança escrava, um simbologia toda secreta, que usavam pra alargar um pouco os espaços dentro da própria alma. Estava sempre apertado por lá. Sabiam uns dos outros, davam as mãos as vezes, mas sabiam que só podiam mesmo ir até a ponta dos dedos. Tinham dono. Gente com dono não toca em nada. É tocada quando - elas não sabem quando são tocadas, não quando, não como, não por quê. Para cada relação que se estabelece fora, há uma correspondente dentro. Essa gente dançava, cantava, desenhava, pintava, transava, fotografava, esculpia, amava, pensava, - faziam de tudo - como se fosse uma enorme brincadeira. Não é que sentissem assim, era muito trágico, mas era o único modo permitido. Dentro das brincadeiras, se olhavam e se reconheciam profundamente, mas nunca podiam viver. Sequer lutavam por isso. Estavam vencidos.