domingo, 22 de fevereiro de 2015

22.02.2015

Uma semente cortada ao meio, inutilizada, presa à sua raiz. O cavalo a comer as folhas como se fosse o pasto. Não era ao alto o destino dessa semente, mas sempre com as pernas entrelaçadas na terra, uma cova disfarçada de terra fértil, vestígios do crime nas vias respiratórias, a terra entrando, enchendo o corpo até o útero arredondar, e explodir. Não era um parto esse o que se enterra num túmulo indigente, não enquanto não soubesse que nome dar ao feto. Assim, a vida. Não era nada até que soubesse que nome, um fantasma, uma semente jogada ao deserto, um animal que a comia com gosto, enganado. A umidade do terror entrando nas unhas, criando cor ao que é inanimado. Não era ao chão o destino da semente, nem ao alto, mas atravessado, buscando nomes, a inutilidade de sua vida catalogada numa linguagem sagrada, uma reza no túmulo vazio, velar uma esperança parece um ato de loucura, o enterro do meu corpo não-nascido.