sábado, 28 de fevereiro de 2015

28.02.2015

Você me deixou. E cada pedaço do meu corpo é um móvel coberto por um lençol branco em algum casarão antigo e desertado. A minha alma correu, bateu portas, deixou passos de sangue pelo corredor. Eu ouvindo o rangido da madeira, algo assustador juntado ao vento entrando pelas janelas, a umidade da noite, as árvores balançando lá fora, antes barulhos que penetravam nossas conversas, nossas pontes e trocas, agora apenas assombram uma noite eterna, um relógio parado e a casa esquecida. A minha alma bateu alguma porta na casa, emoções que ela não suportava, e um cotidiano insuficiente, o barulho buscando estourar as bolhas de uma queimadura de segundo grau em setenta por cento do corpo, e o estalo da porta apenas servia apenas para agitar os fantasmas da casa, que trocavam de repente de aposento, e se via vultos pelo corredor, portas que sempre se fechavam, e no entanto, sempre estavam abertas e expostas. A minha alma correu para o banheiro. Transformou-se numa bulímica. Eu enxergando-a vomitar pela fechadura da porta, sua mão delicada encostada no azulejo em cima do sanitário, eu sentindo sua náusea. Eu a entendo. No quarto dos antigos donos, a saudade fechava as portas e janelas, e mesmo assim, o vento gelava tudo até os ossos.