sexta-feira, 6 de março de 2015

06.03.2015

Na minha nuca havia um golpe. Um martelo a pressionar o meu cérebro, de baixo para cima, uma pancada silenciosa e potente, e tinha o efeito de uma droga. Não havia sangue que fosse derramado, quando o golpe vem de dentro acontece uma hemorragia ao contrário. Eu estava me terminando ao invés de morrendo. O martelo era uma borracha concentrada e eu sentia o peso do contato, uma estranha vontade de transformar minha cabeça numa gôndola, pequenos pedaços meus caindo, mas nunca pedaços grandes: eu viveria pra sempre. De repente tudo sincronizava com a batida do meu coração. De repente todo o sangue estava coagulado no meu coração. De repente meu coração era um martelo que me agredia. Uma fissura se formava no meio dos meus seios. Eu te sequestrei. Agora você escapava de mim por todos meus orifícios. Eu assistia minha emoção escorrendo por todos esses buracos, meu corpo ficaria só depois da última gota. E eu estaria eternamente atrasada para fazer algum sentido. Por esse mesmo motivo, nem me matar eu podia.