sexta-feira, 6 de março de 2015

06.03.2015

Dormi beijando a desesperança na boca. Essa puta. Enfiava a mão entre as minhas pernas, o avesso da delicadeza, buscava minha língua pelo lado de baixo do corpo, monstruosa e apaixonada. Não quero. E reduzia meu corpo a uma maquinaria cuja engrenagem eu não tenho o menor dos controles. Não quero. Eu posso ser mais do que isso. Eu posso amar. E sorria com cinismo com o glóbulo ocular destacado, vívido, e tudo no quarto ficava cinza diante daquele olhar avermelhado, um olhar de choro histérico. Não quero. E no meio do sexo com as duas mãos sobrepostas socava meu peito e me ressuscitava vinte e nove mil vezes. Não quero. Deixa eu morrer. E soprava no meu ouvido todos os sujos segredos do meu último romance. Uma humilhação. Deixa que eu vá para o inferno. Então, me abraçava. Não podia permitir que eu me perdesse.