sexta-feira, 6 de março de 2015

06.03.2015

O escorpião picava o bico do meu seio, seis vezes e então fatalmente, enquanto você me perguntava sobre um café da manhã derramando pelo copo a artificialidade do teu amor. Não, eu não queria. Mas tomei, o que é que se pode fazer quando é de manhã? E eu bebia tudo num gole só. Os surdos sempre me davam gastrite. Não posso conceber um mundo que não vaze pelas palavras, mas mesmo eu, emudecia, impotente, e o sangue criava cascas ao redor do meu rosto, eu acordava de um pesadelo, vinte e sete vezes na mesma noite, e você dormia porque se dopava, e o mundo era injusto. Eu só poderia dormir na morte. Limpava a boca, leite, aveia, frutas, tudo tão fertilizado e nojento. Te abraçava, e sentia a matéria. A tua pele, o peito. Não é pra isso que abraçamos. Era tudo tão irritante. Tudo acusava a minha impossibilidade de gerar vida. Uma porta fechava no meio das minhas pernas, e eu fodia tanto, o óvulo guardando meus choros, desfibrando em cistos teus segredos, a tua obscuridade me apaixona e eu a retenho em toda parte do meu corpo onde a luz não possa me denunciar. Pintei meu rosto, não quero olhar mais. Essa história não deve ser contada. Bebi o café da manhã e em seguida vomitei. Não era capaz de segurar nada comigo. Era capaz apenas de desesperada me segurar em algum galho criminoso no rio, o corpo azul decomposto, não, era cinza, e era a única coisa que eu podia amar. Você grampeou segredos nos meus pulsos, eu sangrava as tuas dores, e as minhas eram cópias idênticas, sentia tudo em dobro. Voltarei à tua cama.