sexta-feira, 6 de março de 2015

07.03.2015

Sabe, eu queria ser uma garota que escreve manso. Não sempre, mas às vezes. Mas daí você fica ali, me empurrando pro meio do túmulo, e eu comendo terra até os dentes ficarem pretos, o gosto lá atrás dos meus pensamentos, a terra úmida que tu preparou como minha cama. Nem mil flores adoçam um cemitério. Então, foda-se mesmo. Meu lugar é a cena do crime, sempre. Pego a faca e martelo meu pulso com ela, o ódio de ti crescendo, crescendo, na mesma medida que te amo. Você me enterra na cova na mesma medida que se enterrou em mim. Então você me amarra na lápide, do lado de fora do túmulo, e diz pra mim: pra você, o lado de fora. E eu preciso assistir o mundo continuar, essa coisa desumana, e a mim restava sempre o lugar de fora. Não quero mais o dentro. Quero ficar sozinha e acender uma vela no meu túmulo vazio. Rezar um pai nosso para um deus que não existe. Ressuscitar no terceiro dia, dessa vez com a força para o suicídio. Sem choro pra você, sem desgosto alimentando os vermes que me levam ao pó aqui do lado de fora, sem choro, adubo de assassinato.