segunda-feira, 9 de março de 2015

10.03.2015

Caímos num fosso, eu e o estranho. Nossas cabeças unidas no final do percurso capilar, mil pedaços de corpo que não se tocam, o espelho e o atrás do espelho, aquilo que não reflete, mas se fecha, um zíper amaldiçoando histórias, e a abertura do fosso lentamente circula em escuridão, também se fecha. O dna das unhas nas parede do fosso: mescla dizigótica, unhas transexuais, esmalte de escrito falso, nossos elementos são escada que não sobe, degrau acima, ela apenas desce, Satã sentando a bunda na abertura do fosso. Você surge do esgoto, sobe com a pele frágil aderindo ao cheiro esgotado de um crime, o corpo apodrecendo na água do fosso, tua luz se inverte: ultraje de monstro do pântano, teus braços se mexem sozinhos, não abate em ti a força diabólica desse sequestro, mas o transforma numa engrenagem maligna de si mesmo, teu coração andando na escuridão. Eu caí lá para que não ficaste sozinho. Eu, não um monstro, mas um ser que não se toca, cujas pernas são distantes, uma aranha subindo tatuada nas tuas costas, esquálido ossos, escadaria-costela da aranha. Juntamo-nos para contar uma história. Entro na tua nuca, aproveito-me do que é vasto no mundo do crime, te conto histórias no ouvido pelo lado de dentro, o tímpano ensebado de teias, esbranquiçadas. Satã levanta.
To be continued.