quarta-feira, 25 de março de 2015

25.03.2015

As suturas feitas no meu ursinho de dormir infeccionaram. A culpa era toda minha, uma mãezinha despreparada que não limpou direito as feridas. Pegou pó lá dentro do pescocinho remendado do bicho. Mesmo sabendo que a jugular dele já tinha se engasgado com a fibra que o mantinha macio, eu jurei que nunca o enterraria. Socava meus dedinhos no vão do pescoço, e empurrava os fiapos toda vez que ele tinha uma noite perturbada e se mexia muito dormindo. Mas também caiu um botãozinho do olho. Eu não me importei, sabe? Quem é que precisa de dois olhos? Com um a gente já vê desgraça o bastante. Rezei um pai nosso e depois falei pra ele ficar até agradecido. Também caiu na água. Ele ficou pesadinho, gordo, parece que a cor dele, que era opaca, estalou. Eu até vi ele berrando, porque deve doer muito se encher de água de um segundo para o outro. Pedia desculpas para ele enquanto eu o torcia. E meu chorinho se misturava com a água que escorria na minha blusa. Eu quero meu ursinho.