domingo, 29 de março de 2015

27.05.2015

Ao meu nascimento, no meio da sala, nasceu também uma árvore. Eu me escondia de todo branco na parede subindo num galho escuro. A terapêutica da felicidade era estéril e cínica. A paz era vulgar porque não era plantada, era artificialmente obtida, e eu não acreditava em paz fabricada de mundo pós moderno. Itens na lista como: nadar, meditar, amar, foder, comer, brincar. Era uma paz que era pega com as mãos e nunca tinha força de romper o casco que era a minha alma e por isso mesmo eu preferia receber socos na cara a uma mensagem de amor. Não é que os socos chegassem lá dentro, longe disso. Nem a mão que masturbava o mais fundo de minha vagina chegava a tal lugar. Ao menos, pensava eu, era um ato espelhado. Ao menos, era o simulacro de Platão. Ao menos eu podia encenar a verdade. Enfim, minha mãe chorava a cada raiz que transformava o brilho do parquê em fissuras e eu nunca entendia o que ela via nessa coisa plana, morta, organizada, limpa, estúpida. embotada, metalizada, algo como um tempo que não anda, tudo que ela buscava deixar intacto que eu buscava socar na boca do estômago. Isso me comia as tripas tão lentamente que eu achava que o tempo realmente tinha parado, porque ela evitava profundamente bagunçar as coisas e meu relógio era como as coisas se mexiam dentro de mim. Subi no galho. O prédio flutuava. Eu chorava a morte. Eu sabia que alguém importante havia morrido. Eu sabia que eu tinha matado todos dentro da minha cabeça. Que não restara um que me juntasse daquele galho e me contasse histórias pra eu dormir sem sonhar coisas ruins. Levo a mão ao galho que pende com um fruto pesado. Mordo na casca, meu choro escorre de dentro do fruto. Engulo com raiva. Cuspo o caroço no chão da sala.