quinta-feira, 9 de abril de 2015

09.04.2015

Faltam as unhas para a feitura de uma cova transparente no ar. Sarcófagos sem limites me guardam. Um homem mumificado deposita o ar em minha boca. Suas mãos enfaixadas, desfibriladores que acariciam meus seios. Aos poucos, seu abraço me enfaixa. Não há promessas na morte, ela é o devir da promessa, ela é o desmascaramento das possibilidades. Fui enrolada por uma gaze, dos pés ao pescoço, meu corpo era o sintoma de um fracasso, a via de acesso da dor, uma trilha para a escuridão. O interior desse corpo encontra paredes movediças, e os órgãos estouram a cada minuto, derramando líquidos espessos, amorosos, desiludidos, ali, onde a minha história se esconde e não é possível visualizar um horizonte. O branco das faixas é possuído pelo vermelho. O olhar do homem é possuído pelo vazio. E eu sou possuída pelo homem.