quinta-feira, 30 de abril de 2015

30.04.2015

Estou em anestesia, estou em ameaça de arritmia, estou em stop motion. Na mesa cirúrgica o metal é minha vida opaca e o médico é uma luva sem mãos. Estou em anestesia e logo um bisturi me corta e não há sangue, toda eu estou cinza-morta pós derrame, e eu estou no bloco cirúrgico chamado meu velório. Estou paralisada do pescoço para baixo, onde fica meus órgãos reprodutores todos vasectomisados e esterelizados, a luva clínica tentando me levar ao gozo e eu num orgasmo póstumo, já não o sinto, apenas escorrem os líquidos enquanto alguém corre com as gazes. Não confie em médicos, eles são fissurados em incisões x e y e agora que estou anestesiada nessa mesa de metal é tarde demais e já não sei se é necrotério ou se é hospital. Mas eu sempre acordo, alguém vem me avisar das sequelas.