domingo, 31 de maio de 2015

01.06.2015

Conserva teus ligamentos intactos: enforque-se com eles, em cada pedaço, a ti mais que uma morte é necessária. Reprime teu grito suicida, engole e guarda na glote até que eu possa tocar o momento em que tu se acaba e desaparece do enquadramento. Quero um teatro japonês. Quero uma gueixa chorando no teu pé empoçado de sangue. Conserva as cordas que seguram a cortina do teu teatro. Veste o veludo vermelho da cortina que separa o palco da platéia. Desconecta teus ligamentos, um a um, em atos, epílogo, e o que mais for chamado de mentira. Eu assino teu ato vazio. Eu enceno teu poema recitado. No palco: meu fígado, meu pulmão: atrapalhando a cena. E a língua, procurando teu pênis, perdendo o roteiro da cena. Conserva tua morte intacta, já ensaiei cinquenta e oito vezes essa parte da história. Conserva teu choro, teu sangue, em cima do palco, vou fechar o tetro, de todo modo. Tirando a morte, o resto todo precisa de reparo.