terça-feira, 5 de maio de 2015

06.05.2015

O frio da noite pressionava meus seios. A cidade era suja e luminosa e me enchia de excitação. Eu sempre acreditei nesse anti-heroísmo pós-moderno de cidade sem paz, de homem sem caminho, de mulher desiludida, esse que exigia da gente uma produção literária mais afiada e também um choro mais amargo, e um gozo mais difícil. Eu gostava do frio pressionando meus seios, do hotel barato descendo a rua do teu prédio, daquele lugar que gente como nós não habitava e apenas ríamos, porque a gente via tudo o que era podre no mundo, e reconhecia só de cruzar o olhar um com o outro, e essa desesperança imensa era risível. Eu gostava também das tuas mãos pressionando meus seios, como essa mesma desesperança, agora porém, não tinha a graça alguma, apenas reconhecimento, a mágoa escorrendo pelos pelos da minha boceta, enquanto você me retinha na tua teia de depressão e possessividade, eu era tua, isso me machucava. E ainda, com não sei qual coragem, você pede que eu te olhe nos olhos, enquanto me fode, segurando os cabelos, e também segurando a minha vida inteira com a tua agressividade opaca, vazia, melancólica, e eu fiz a grande merda de olhar você nos olhos.