quinta-feira, 21 de maio de 2015

22.05.2015

A matéria do teu corpo constrói mentiras ao meu redor. Um horizonte reconhecível, o fim do azul no céu, a borda do meu caminho no mundo, você costumava me dizer até que altura o copo enchia, e mantinha um moinho trabalhando, incansável. Agora não posso te distinguir senão como marca, nesse território contaminado a ponto de não sabermos a cor da terra, você é um fantasma com pegadas, anti-matéria, anti-presença: passos que não cessam de andar em mim. Estou na parte mais funda do rio e sozinha, já não preciso de tuas digitais nos meus pulsos, eles estão mais calmos aqui onde tudo é uma absurda pressão da água e uma triste ausência de luz. Sou também uma marca no escuro, e logo meu corpo sobe à superfície.