terça-feira, 26 de maio de 2015

26.05.2015

Sou um objeto não identificado de tristeza, levaste, com as mãos, meu cheiro, e também os dedos das minhas, uma fabricação interrompida da vida, um latrocínio da minha epiderme. Sou um cavalo andando em círculos, orbitando uma figueira solitária na planície, a selvageria de grande porte trincando as patas, o cheiro podre dos figos recusando a queda. À medida que o tempo passa, o escombro aumenta, os ovários expelem saudade, o clitóris engole enganado, devolve em bulimia, desesperado, um antídoto de serpente equivocada. Guardo tudo no caixão de memória, teu simbólico sangue por mim derramado. Logo enterro, o corpo, a cinza, meu cheiro, numa cova mais rasa que minhas lembranças, até lá, sou um objeto identificado na tristeza.