quarta-feira, 27 de maio de 2015

27.05.2015

Falta-me a cachaça, o sexo, o caco de vidro. Falta-me a terceira hora da madrugada, o terror dos vampiros, o crucifixo em chamas na parede do quarto de uma velha. Falta desenterrar a palavra do quintal da casa abandonada, subir nos balanços e embalar o salto para a discórdia, falta apagar as luzes da cidade quando a mulher nua passa, sentindo nos pés o asfalto e a hipocrisia das moradas enfileiradas, como se não houvesse nada, como se fosse aceitável, como se não pudéssemos quebrar os ponteiros do relógio, ou enfiá-los no rabo de quem os aceita. Falta o ritual satânico de minha mãe preparando o jantar, a sua alma por rodelas de cebolas bem cortadas. Falta dizer que odeio cebolas, e comê-las com o bruxismo potencializado pela raiva, correr ao banheiro e vomitá-las inteiras para o jantar de amanhã. Falta a cachaça, o sexo, e o caco de vidro. Falta o teu corpo nu na cova.