terça-feira, 9 de junho de 2015

09.06.2015

Se ao menos eu pudesse vestir a tua camisa, e fingir que é minha nova pele, e meu novo cheiro, e se ao menos eu pudesse andar pelo teu apartamento, não no corredor, mas na sala, e dizer que caminhos são como esqueletos de histórias, e são sempre difíceis, e ser imediatamente contrariada, ainda que, não afetivamente, mas impelida a pisar onde piso sem tentar ver onde estou indo, se ao menos eu pudesse dividir a janta e fingir que a madrugada é mais larga que a minha confusão, e se ao menos a névoa lá fora fosse densa o bastante para preencher meus vazios, e também se você abraçasse meu esqueleto, e minha parte difícil, com tua camisa, teu cheiro, e também com o instinto de proteção: talvez eu aquietasse um pouco, e pudesse tomar um vinho sem pensar que ele acaba.