domingo, 21 de junho de 2015

21.06.2015

Jorro palavras vindas de ti, brancas, espessas e ácidas. Espetadas como a carne de porco ao domingo: eu era um jantar, espetado e salgado de lágrimas, e lubrificações químicas, serotoninas dissecadas até a medula amarga: não, eu era uma refeição indigesta, você sequer me tocava, com aquele problema na garganta, que não podia engolir, ou chupar, ou falar: você tinha no lugar do esôfago um túnel que desembocava no abismo, e eu escorreguei nele depois de sentar na borda e ouvir os pássaros, corvos na verdade, os mesmos que cantavam eu meu estômago toda vez que eu lia um poema escroto ou me masturbava ou ainda pensava em suicídio: eu era tão líquida que desci sem escoras, sem pedaços de madeira pra me fazer ficar na superfície, eu desci fundo no teu abismo, e um corvo veio me dar comida na boca: até ali você fazia questão de me manter viva, e eu te confundi: achei que tu era o próprio olhar do corvo, a penetrar no meu, trocar subtextos grotescos, eu chorava a cada vez que tudo voava alto: eu sempre aqui embaixo.