quarta-feira, 15 de julho de 2015

15.07.2015

Faz vinte e sete noites que não durmo. São vinte e sete sonhos guardados no estômago. Vinte sete pedaços de casca de ovo de um almoço do domingo: um inferno familiar: um faca sem fio: minha mãe chorando. Faz vinte e sete meses que não respiro. Falaram-me: é um movimento involuntário: mentiram. Estou constantemente me esforçando para levar ar puro lá pra dentro: onde tudo é uma casa abandonada: um reflexo de mim: um abandono que se atualiza: uma lágrima fresca no inverno: quente como a mão do diabo: tudo corre de mim: tudo: fico com pedaços rasgados de pele: até a palavra é descolada de mim: até eu mesma: e de repente estou num beco escuro sem ninguém: sem a palavra de consolo: faz vinte e oito anos que nasci: ainda estou naquela posição: atravessada entre as ancas maternas: aquela posição na qual não se recomenda nascer.