segunda-feira, 7 de setembro de 2015

08.09.2015

Tem uma palavra alojada no fígado, incômoda, resquício de violência: inutilidade poética pós-desastre: não cirúrgica, não vomitável, não cagável. Existe uma palavra chamada 'si' alojada no interior dos intestinos agindo como se fossem lombrigas comedoras de sonhos, parasitas do fantasístico, dinamites de frustração. Tem um alojamento de palavras que dormem respirando pesado, cuja melanina é violentamente interrompida pela luz do dia, dos dias, das noites, o escuro, e também o que não é escuro. Tem uma cicatriz imitando um falso caminho no meu estômago: bulimia de palavras não ditas: compulsão de escrita pra perder peso: perder o peso: perder-se todo o peso e até o mínimo peso: tem uma bala alojada na garganta como refluxo de motivos pra chorar, como fala cíclica, como cirurgia fracassada: derramamento de palavra enfartada: coagulada: mentirosa. Existe um alojamento vazio, espaçoso, que se chama eu, e há alguém lá dentro, correndo solto na noite, mexendo em tudo: há uma metástase de mim no fígado, estômago, peito, coxas: o avc caminhou onde a mão do médico não toca: uma palavra incomunicável: a cabeça incha.