domingo, 13 de setembro de 2015

13.09.2015

Gosto de gente que traz a noite como uma semente agressiva no peito, que não sorri depois de dizer algo sério, cujo silêncio é mais denso que a palavra. Gosto quando a enchente baixa o nível de água, quando dá o último respiro, e mostra, com umidade excessiva, séries de desilusões no solo. Eu não nasci para florescer. Gosto quando uma noite se abre dentro da noite, como uma realidade oblíqua e ao contrário do que pensam, odeio olhar dissimulado. Eu ouvi quando uma gaivota chorou baixinho na madrugada. Podia-se pensar naquele ruído triste como a anunciação dos fracassos e os joelhos trincando eram filhos de novas enchentes, mentiras, afetos, travessias confusas: gosto de gente que não dorme porque sonha.