quinta-feira, 31 de março de 2016

31.03.2016

São oito e vinte e dois de uma manhã clara demais para a morte. O céu azul como a íris de um cachorro. A navalha de Buñuel ostentando a intuição de um futuro sangrento, brilhando contra o sol, brilhando contra meus ossos escuros, são oito e vinte e dois de uma manhã de natureza invasora, como a língua acidentada em minha boca, todas as falas escorrem como líquidos cujo corpo protetivo fora arrebentado. É manhã de chutar um corpo morto, por hábito, por crueldade, por desespero, porque a navalha brilhou contra a vontade de salvar esse corpo acidentado, essas falas escorridas, essa língua intuitiva, são oito e vinte e dois de uma manhã aberta com uma navalha, meu coração azul como o olho de um cachorro morto, são oito e vinte e dois e nunca é o próximo segundo.