domingo, 22 de maio de 2016

22.05.2016

Recuos, esquivas, tua xícara de café cheia de areia. A manhã rebentava as janelas da tua memória, enquanto andava eu ia pisando em cima dos mortos, enquanto andava eu as palavras pingavam do meu queixo, caiam nesses corpos entupidos de indiferença. Amanhã será um lindo dia. Amanhã minha vó morta falará comigo porque ela pode. Destruíram uma casa enquanto as notas de piano resistiam como baratas resistentes, o som se escondia embaixo dos escombros, mas estava lá, era só encostar os ouvidos-de-ouvir-rejeições, e as notas vibravam como o pênis excitado através das pedras, através dos corpos, através das coisas todas que pudessem ser arrebentadas. Amanhã será a primeira linha de uma carta que te amaldiçoa. Recuei tanto, bebi tanto, agora preciso encontrar a náusea estimulando tudo artificialmente como bulímicas, sartre que me perdoe, a tropa toda que me desculpe, amanhã os pássaros esmagados voarão com igual indiferença, como se estivessem gordos e ainda sangrando.