domingo, 22 de maio de 2016

22.05.2016

Você que brinca de alucinação, você que com dedos cirúrgicos me empurra para dentro de um corte, amanhã eu não estarei coberta de lucidez, como durante a infância, como almoçando, como separando meus livros para a escola, como pintando aqueles desenhos, amanhã eu estarei no centro de uma violência plástica, veja bem, teu soco alucinógeno erra meus olhos, veja bem, faz dias que te vomito, respiro tão fundo que meus ossos são varridos para lugares estrangeiros, teu abraço alucinógeno me toca como se os poemas estivessem sido engolidos, você, você, você, uma palavra psicótica comprida demais, eu tão pequena, eu tão esmagada pela respiração de uma população de sete bilhões, de mais duzentos e setenta e cinco bilhões de mortos, outros que ainda não vieram, igualmente alucinógenos, eu tão alheia a ideia de que era tudo uma brincadeira, de que não havia sete bilhões, não havia mortos, não havia poemas.