sexta-feira, 13 de março de 2015

13.03.2015

Sulcos no chão de madeira dessa casa velha. Passos que não partem e nem chegam a lugar algum, estão apenas espalhados, formando a evidência mas não a história. O sangue percorre os caminhos dos vãos da casa. O sino para o jantar chama às 4h15 da madrugada. Minha mãe morta está na frente das panelas. Mexe o caldo com o pequeno galho roubado da árvore usada no seu enforcamento. O corpo ainda balança lá fora, o vento é imperdoável em soprar as mortes para dentro da casa, a gravidade devolve à terra o que é da terra, o corpo apodrecido, o choro caído no rosto, a cor esverdeada nas veias, uma raiz de árvore cujas folhas nunca nascem. Não estou com fome. A tristeza enche meu estômago. Sento na pequena escada na varanda. Dois degraus para o fingimento do alto, a casa não toca na terra imunda. Escuto os barulhos dos talheres. A casa está cheia de espíritos. Entrarei e procurarei o meu.