sexta-feira, 13 de março de 2015

13.03.2015

A enxada subitamente penetrava a terra. Eu me perguntava se havia uma maneira delicada de abrir uma cova. O silêncio era delicado e ele mentia. Tudo era engolido pelo silêncio. A casa abandonada, o pátio cemitério, a árvore corpo. Raízes tão profundas que estalavam conforme eram atraídas pelas mentiras da noite. Uma bala de festim, um buraco frutífero, uma cova vazia. Ninguém ousa experimentar essa fruta. A bulímica mascara sua náusea com uma patologia. A frágil natureza de seu espírito perturbado. Ninguém questiona. Ninguém entende o que deve ser enterrado, no entanto, a família toda, excetuando a bulímica que partiu em fuga para o banheiro, se agrupa ao redor do túmulo improvisado. Sou a única viva. Este sonho é meu. Este inconsciente é meu. Fecho os olhos para testar meu poder - não por medo -, pretendo eliminar todos dessa noite bizarra, preciso de um momento de solidão, preciso do descanso das reações, meus reflexos estão dopados e não pretendo me esforçar para corrigir o relógio da casa. Ou o meu. Ou qualquer relógio que exista no mundo. Um erro: acordo com os pés fincados no túmulo. Os espíritos brincando de balanço com as cordas de enforcamento. A bulímica me olhando da janela da casa.