domingo, 15 de março de 2015

15.03.2015

O cheiro do fermento, rastros aéreos de satã. Um pulso costurado indo e vindo, erótico, umedecido pelo sangue fugitivo das suturas. A massa de um pão rolando fresca na mesa, um pão para dividir com todos que não estão mais na casa. Hipnose de cozinheira magoada. Fornalha estalando os gritos dos abortos. Esperando o pão. A massa crescendo, esponjosa, a cozinheira pisca mais forte, saída estratégica de um transe - olha para a porta da sala - ninguém está vendo - não há ninguém - ela aproveita e corre para o pátio. Junta pequenas britas cinzentas, como seu coração era cinzento, e as aperta entre os dedos. Volta pra cozinha, passando ligeiro pela sala vazia, cuidando para que ninguém da sala a veja. Joga as pedras no pão. O cinza se misturando ao amarelado, as pedras como vitimas numa teia de aranha alimentícia, venenos chamado o peso da vida.