domingo, 29 de março de 2015

27.03.2015

Segurei meu umbigo na mão, o punho fechado e a correria para dentro da floresta. O arco-íris em preto e branco marcava no céu de qual lado do mundo eu deveria estar. Nasci em meio a fuligem. No parto eu escorria um líquido escuro tal como um filme noir o faria e o médico sorrindo porque a felicidade não era discutível. Corri mais ao fundo da floresta. Corri com força para o fundo da floresta. A enfermeira matou uma mosca nesse umbigo. A enfermeira matou com um bisturi a mosca pousada no meu umbigo. A enfermeira matou com um bisturi a mosca que comia meu umbigo. A enfermeira cravou o bisturi no meu umbigo. A mãe abraçava o choro do recém-nascido: a boa nova da saúde. O tapa irônico da vida nas mãos enluvadas do médico. A mão distante de mim. O tapa cada vez mais perto de mim. Eu corri para a floresta e os sangues vertiam das árvores enquanto eu apertava na mão meu próprio umbigo. Cheguei ao centro. Cheguei ao meridiano que dividia minha vida entre o bem e o mal cristão inventado. Apertei tanto a mão que não sentia mais nada tocando a pele. Abri e realmente: não havia nada além de suor.