domingo, 29 de março de 2015

27.03.2015

Baços não servem para nada. Meus pés estão plantados até os joelhos no quintal da casa abandonada e eu não cresço. O céu nunca me atraiu. Nada vazio me atrai. Quem gosta de coisas que brilham só por que brilham que não possa ser comparada a uma criança? Estrelas não me convencem, não rezo pai nosso desde a minha infância e também nunca pedi nada porque nunca soube o que é que consertaria essa bagunça. E o ar penetra a garganta involuntariamente como um estupro delicado. Desde que parei de rezar o pai nosso não acredito que Deus seja uma coisa amorosa, mas se alguém podia construir algo do tamanho do mundo era alguém que continha uma violência descarada e estúpida e ter nos dado um lugar não era um ato de bondade, porque até o Diabo nos guardava o inferno e não nos perguntava sobre nosso gosto individual. Enfim, o céu tinha esse caráter de entrar e inchar nos meus pulmões e só porque era transparente não significava ser delicado, isso era propositalmente condicionado a rasgar meu peito sem que se visse o ato. A terra me continha. A cova me guardava. O túmulo me protegia da vida. Era um cuidar materno na noite febril, a terra pesando nos seios como compressas amorosas, o morno amor da cura, o morno amor da lentidão, o silêncio que me permitia o choro, e o choro era mais poderoso que o céu.