domingo, 29 de março de 2015

27.03.2015

Eu cavo mais fundo até que encontre a terra doce que me substitua o asfixiamento pelo gosto da nutrição. Não espero de nenhuma árvore um abraço. Quem faz movimentos aqui tem por nome carnívoro. Observo minhas fissuras escorrerem vermelhas humilhações. Sou uma planta que dorme. Durmo mais uma vez sem nunca ter acordado. E durmo ainda outra vez sem sequer ter me despertado uma única vez na vida. E durmo todos os degraus de minha vida frágil de caule fino e úmido. Há um canto que surge toda noite quando o relógio da natureza bate quatro da manhã onde a hora não faz sentido. Escuto e olho para trás. Reflexo enganoso de minha folhagem que inclina-se onde o sol bate. Quero fugir, quero saber o que me cantam. Dormirei mais um degrau, até que a escada me deixe na frente de uma caixa de música. Abrirei. O som me dirá uma coisa importante, então cessará. Sempre choro com caixinhas de música.