domingo, 29 de março de 2015

27.03.2015

Bato a porta do quarto e vomito. Não há quem segure meus cabelos para esse ato de violência passar com ternura. Tenho tanto ódio de mim que esfrego meus cabelos nesse vômito. Não há outro motivo para a violência que não seja ser acertada na cara. Enfio o dedo na goela mais quinze vezes. A minha dor tem um erotismo vazio. O que ela faz no meu corpo é um sexo com o desconhecido. A impessoalidade está no meu vômito. Tranco a porta. Minha patologia me contará segredos toda quarta-feira a noite. Minhas lágrimas vazaram para o estômago. Suco gástrico da bulimia. Suco choroso do meu estômago. Ciclo da alimentação da minha dor. Eu desnutrida. Estou des-histórica. Guardo pouco e ainda devolvo. No ultrassom o feto foi visto no estômago. Fugiu da minha condição de mulher de quadril largo. Fugiu da minha condição materna. Fugiu das palavras sem sentido. Fugiu deste escrito.