domingo, 19 de abril de 2015

20.04.2015

Ondina veio a deitar-se na cama comigo, queria transar pela boca, onde ela entupia de água aquele cuja vida se esqueceu de respirar. Ondina era uma ninfa rancorosa cuja orelha não poderia ser partida. Então na doçura das coisas etéreas ela preferia se enfiar na boca dos condenados e aguardar tão passivamente que a insônia ocupasse o lugar do sono. O sonho então entrava pelo ouvido, o mesmo ouvido que Obá partira à base da mesma selvageria com que fora partido o seu coração. Nesse caso, erguiam-se parques macabros, casas abandonadas, cozinhas hipnóticas, desertos azuis e a única coisa que nunca se apresentava era o responsável pela mordida na orelha que encheu de tesão a mulher antes que ela pudesse perceber que sua pele sangrava mais do que a sutura podia suportar.