sexta-feira, 1 de maio de 2015

01.05.2015

O que tu fez com minha goela? Que nem digo mais nada e o que digo é também nada. Enquanto eu andava pela Augusta numa noite vasta, porque são paulo era uma cidade que te puxava para o alto, e tu sentia que teu asfixiamento progredia enquanto aqui tudo congelava - enfim, enquanto eu descia aquela rua, rindo de um hotel muito asqueroso com bêbados na frente e dizendo pra ti: aqui que vamos dormir? e tu sorria mesmo engolido pela depressão, e eu sorria mesmo engolida por você, enquanto eu descia aquela rua onde não sei quem importante foi assassinado e eu te dizia: além de quantos? e não queria saber dos importantes, eu mesma era tão ordinária, era tão descartável, tão monótona. enquanto eu descia aquele caminho ao inferno eu não sabia que eu seria uma das mortes que marcariam aquela rua, na altura do apartamento mais alto, onde dava pra ver janelas de esperança dos prédios que contavam mentiras familiares, e teu farol piscando, um ponto de meditação ridículo no qual tu se agarrava para fugir de si, não, não fugia, tu era condenado a correr sem chegar ao fim, e tu sempre corria e isso era tão desprezível. a mim parecia mais que a cidade abria espaços mais longes, e o ar do universo lá onde a gravidade não derruba nem oxida nem mofa nem aquece, lá onde a umidade não é chupada pelo ar, lá onde o corpo não era enganado pela matéria, todo esse ar recém humanizado me tocava e eu podia pular daquela sacada e morrer feliz porque estava gelada e amada e em paz mesmo escrevendo a tragédia.